3. Festas de Folias em Goiás

As folias estão entre as principais manifestações festivas do Estado de Goiás. A tradição das folias remete-se ao período colonial, quando estas eram consideradas como uma forma de catequização.

Em Goiás, a prática desta festa tem sua origem no âmbito rural, está diretamente integrada ao catolicismo popular e segue o calendário dos santos católicos, apesar de não ter necessariamente uma relação direta com a Igreja Católica.

Os “giros” são organizados por devotos e são caracterizados como uma oportunidade dos seus participantes reviverem lembranças, reencontrarem familiares e amigos, além de conhecerem novas pessoas.

Todo o “giro” é permeado de símbolos. A afetividade e a memória coletiva estão intensamente presentes nas ações, no rito e nas relações territoriais estabelecidas pelos foliões. Deste modo, há uma eclosão do sentido de pertencimento, que está intimamente ligado à identidade do sujeito.

Os grupos de folias são compostos de pessoas denominados de “foliões” e “fulionas”, que em uma “irmandade” assumem distintas atividades dentro dos grupos.

Entre as funções existentes nas folias estão a de liderança com os mestres de folias, a do Embaixador e do Capitão, que detém o conhecimento dos “segredos” da folia, e que assumem a primeira voz nas cantorias, rezas e saudações. Os Palhaços que têm como principal função proteger a Bandeira e o Alferes ou bandeireiro de carregar a bandeira, receber e guardar as ofertas, ou “esmolas”, durante o “giro”.

Além destes há também os cantores e instrumentistas. Todos os foliões possuem uma sensibilidade da hierarquia do grupo como uma divisão do trabalho. Da mesma forma que parte do grupo passa o dia cantando de casa em casa; grande parte das mulheres são cozinheiras e passam o dia preparando os almoços e jantares para o grupo nas casas que oferecem os “pousos”. A divisão do trabalho tem suas funções em um mesmo nível e com a mesma importância para o grupo de modo geral.

As folias guardam em sua essência a relação de compadrio e de solidariedade entre os devotos. Os grupos de folias percorrem várias casas, onde cantam e levam a mensagem de fé do santo que os “guia”. Nos locais visitados são prestadas homenagens tanto aos santos, quanto àqueles foliões e devotos que já faleceram.

Os pousos, almoços e jantares dos foliões, são oferecidos por devotos com o objetivo de continuar uma tradição iniciada pela família, ou para pagamento de promessas e feitas ao santo para celebrar as graças alcançadas.

Estes pousos tornam-se grandes festas, que agrupam familiares, amigos e devotos, com o intuito de celebrar a alegria, a saúde e a vida. O cardápio escolhido para este momento considerado tão especial segue as tradições rurais, com pratos regados a carne de porco, macarronada, galinhada, peixe, feijoada, feijão tropeiro, almôndegas, tutu, pequi, guariroba, cachaça, e muito doce. Normalmente, a maioria dos produtos utilizados para estas refeições são doações recebidas durante os “giros”.

É presente nos “pousos” a prática de realizar decorações de altares dos santos que a família é devota, a construção de arcos com folhas de palmeiras e flores naturais e artificiais.

O rito da folia é composto de cantorias, saudações e muitos signos e significados. A musicalidade é a principal marca da folia e está presente todo o tempo durante esta manifestação. Há o canto da saída da folia, da saudação nas casas visitadas nos “pousos”, da “louvação da mesa”, e da entrega do “giro” da folia. As músicas são compostas de versos semiestruturados, que são modificados conforme a ocasião e a especificidade do momento.

Cada grupo de folia possui particularidades transmitidas ao longo dos anos de pais para filhos e posteriormente para os netos em uma tradição oral composta de muitos relatos de graças alcançadas, fato que fortalece a fé de todos os componentes dos grupos.

Todos os grupos de folias afirmam que têm no “giro”, uma “viagem”, uma “missão” a ser cumprida. Esta se encerra ao término do percurso planejado, local onde ocorre a entrega da folia, o encerramento do “giro” e a escolha do novo festeiro que será responsável pelo “giro” no próximo ciclo festivo.

Nas últimas décadas tem sido frequente a apresentação de grupos de folias em eventos folclóricos, assim como a realização de encontros de folias. A capital Goiânia sedia anualmente o Encontro de Folias, que é organizado pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult) e pela Comissão Goiana de Folclore.

Estima-se a existência de 198 manifestações de grupos e festas de folias em Goiás. As folias representam 15% das manifestações festivas presentes em todo o estado. Elas são aqui categorizadas de acordo com o santo de devoção do grupo ou da festa . A maioria, 176 festas, são em adoração a Santos Reis e 22 festas em louvor a São Sebastião, ao Divino Pai Eterno, ao Divino Espírito Santo, a Nossa Senhora da Abadia, a Santo Antônio, a Nossa Senhora da Abadia, a Nossa Senhora das Neves, a Nossa Senhora da Aparecida, a São Benedito e a São Gonçalo

As festas de folias estão presentes em todo o território goiano. A maioria (58%) destas manifestações festivas está na Mesorregião Centro, 15% na sul, 8% na noroeste, 11% na norte, respectivamente e 7% na mesorregião leste. A Região Metropolitana de Goiânia é o local com maior concentração de grupos de folias em todo o estado