As festas de santos/as padroeiros/as são representações materiais e imateriais dos vínculos que ligam a cultura brasileira às heranças constituídas pelo credo religioso cristão católico. Essas foram reproduzidas pelas sociedades europeias no território brasileiro no período da colonização. Desta feita, as festas são demarcações simbólicas e espaciais que expressam as ligas identitárias que os indivíduos passam a ter com o lugar, a religião e o/a santo/a. A ocorrência dessas é garantida por um conjunto de práticas que se efetiva nas ordens social, religiosa, cultural, política e econômica. As festas de santos/as necessariamente são vivenciadas por meio de homenagens aos/as padroeiros/as na forma de novenas, trezenas, tríduos acompanhadas de quermesses, levantamento de mastros, fogueiras, caminhadas, cavalgadas, desfiles, distribuição de comidas, bailes e romarias. Essas são importantes manifestações culturais que estruturam os lugares, por meio da teia de relações que envolve consumo, encontros, trocas e sociabilidades. Ademais, as festas revelam o pertencimento que o ser humano estabelece com o lugar e o/a pradroeiro/a venerado/a.
Goiás é reconhecido pela diversidade de suas festas, porém as destinadas para os/as santos/as padroeiros/as se revelam como dinamizadoras das tradições locais. Nesse estado pode se destacar a ocorrência de três padroados que dominam as festas. Assim, a distribuição espacial dos santos padroeiros (as) nos atuais 246 municípios goianos, oficialmente, obedece a um agrupamento de 56 santos católicos. De acordo com o mapeamento, os padroados em Goiás apresentam-se por três aglutinações, a saber: domínio mariano, destaque para Nossa Senhora da Abadia e Nossa senhora Aparecida os domínios de São Sebastião e de os Santo Antônio.
As festas de padroeiros/as também se associam as romarias. A origem dessas romarias vincula-se aos movimentos alternativos dos cristãos no período colonial brasileiro. Peregrinações espontâneas que nasciam geralmente da piedade popular, da aparição de imagens e pagamento de promessas. Esses movimentos fortaleceram as tradições religiosas firmadas no catolicismo, além de promoverem a visibilidade das manifestações religiosas populares católicas. Cita-se como exemplo as romarias dos Santuários de: Nossa Senhora de Nazaré, em Belém/PA, Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida/SP, São Francisco em Canindé/CE, Padre Cícero Romão em Juazeiro/CE, dentre outros. Essas romarias, principalmente as de alcance nacional são responsáveis também pela construção e valoração das cidades- santuários no país.
No estado de Goiás ocorrem romarias de alcance regional que são reconhecidas por preservarem fortes expressões simbólicas do catolicismo tradicional goiano e por constituírem a identidade territorial garantida pelos modos das pessoas viverem nos lugares, particularmente presencia-se que o ir e vir que garante o sentido a vida conecta-se ao sentido das festas: romarias de Guarinos e Corumbá de Goiás, em homenagem a Nossa Senhora da Penha; Abadiânia Velha, em homenagem a Nossa Senhora da Abadia; Jaraguá e Panamá, em homenagem ao Divino Pai Eterno. Outras romarias goianas, atualmente, passaram a ter alcance nacional, como a romaria do Muquém no município de Niquelândia, em homenagem a Nossa Senhora da Abadia e romaria ao Santuário de Trindade em homenagem ao Divino Pai Eterno.
Ressalta-se a romaria do Muquém, por essa ainda conservar a tradição centenária de homenagear o orago cultuado. Na romaria, o percurso entre a cidade de Niquelândia e o povoado de Muquém é simbolicamente marcado quando os fiéis carregam a imagem da Santa até o Santuário, a casa de Nossa senhora da Abádia. O sagrado é manifestado em quase toda a caminhada ao Muquém.
Para os romeiros que vão à cidade de Trindade, a romaria constitui uma rede de solidariedade e de fé. A peregrinação ocorre de indivíduo a indivíduo, de grupos por grupos advindos de várias localidades do país. A romaria de Trindade ou do Divino Pai Eterno tem suas raízes no meio rural, entre lavradores e criadores de gado. A Igreja, em Trindade, por meio da ação dos Missionários Redentoristas, assume o controle e a organização da romaria, ainda, várias manifestações do catolicismo popular permanecem. O costume de ir a Trindade a pé, a cavalo e de carros de bois ganha novo sentido nos tempos atuais. Inúmeras pessoas deixam suas casas em carros de bois, cavalos e a pé percorrendo longas distâncias dirigindo-se à Trindade, os romeiros, em especial, preservam a tradição do carro de boi (painel 3).
As romarias, assim como as festas de padroeiros/as são vistas como manifestações espontâneas, porém, na contemporaneidade se apresentam verdadeiramente como fenômeno de massa que se efetiva por um ideal comum, ligando pessoas de diversas localidades em busca do contato com ser divino. Essas são representações históricas, culturais e sociais que se desvelam como resistências da cultura e das tradições dos indivíduos.