4. Festas Juninas em Goiás

As comemorações de São João, cujo dia oficial é 24 de junho, fazem parte de um ciclo festivo que passou a ser conhecido como festas juninas e homenageia, além desse, outros santos reverenciados no mesmo mês: Santo Antônio, São Pedro e São Paulo.

A origem dessas festas remonta a um tempo anterior ao surgimento da era cristã, de acordo com o livro “O ramo de ouro”, de Frazer (1982). O mês de junho, no Hemisfério Norte, era o período do ano em que celtas, bretões, egípcios, persas e outros povos faziam rituais para estimular e promover a fartura nas colheitas. Com o cultivo da terra pelo homem, surgiram os rituais de invocação de fertilidade para ajudar o crescimento das plantações que perduraram ao longo dos tempos. Era desse tempo também o costume de acender fogueiras e tochas, que deviam livrar as plantas e colheitas dos espíritos maus que podiam impedir a fertilidade.

Na era cristã, mesmo que fossem vistos como pagãos, não era mais possível exterminar esse comportamento ligado à fé e devoção ao sobrenatural. Segundo Frazer (1982), é por esse motivo que a Igreja Católica; em vez de condená-los, os adaptou às comemorações do dia de São João que teria nascido em 24 de junho.

Quando os portugueses iniciaram o empreendimento colonial no Brasil, a partir de 1.500, alguns cronistas contam que os jesuítas acendiam fogueiras e tochas em junho o que chamava a atenção dos indígenas que, também, tinham a prática de atear fogo no mato para afastar espíritos malignos.

Houve, portanto, certa coincidência entre o propósito católico de atrair os índios ao convívio missionário e as práticas rituais indígenas, simbolizadas pelas fogueiras de São João. Este é um fato que justifica as festas juninas terem tomado a proporção e importância que possuem, atualmente, no calendário das comemorações brasileiras.

Outro fator importante na compreensão desses festejos é a sociedade daquele período, cuja característica principal era que mais de 70% da população do Brasil, até 1950, vivia na zona rural, seja como colonos, seja como agregados das fazendas agrícolas.

Naquele tempo, as relações familiares eram complementadas pela instituição do compadrio, que integrava outras pessoas à família, estreitando os laços. Uma das maneiras de realizar este ritual era pelo batismo e a outra era por meio da fogueira que os compadres, em duplas, deveriam saltar dando-se as mãos e recitando versos como este:

São João dormiu,

São Pedro acordô,

Vamo sê cumpadre

Que São João mandô.

(Nordeste sertanejo)

Hoje, as festas juninas possuem características locais, alternando os tipos de dança, vestimentas, comidas, rezas, brincadeiras e as músicas. Elas, “com maior ou menor destaque, ainda são realizadas em todas as regiões do Brasil e representam uma das manifestações culturais brasileiras mais expressivas” (RANGEL, 2008, p. 25).

Em Goiás, acontece cerca de 120 manifestações juninas nos municípios. Algumas são conhecidas por “arraiás” como é o caso do “Arraiá da Solidariedade” em Uruaçu e o “Arraiá do Cerrado” na capital, outras levam o nome de um ou mais santos homenageados, como a “Festa de São João” em Santa Tereza e a maioria é conhecida simplesmente por “Festa Junina”.

Uma característica marcante no Estado é a presença das quadrilhas formadas por alunos de escolas, moradores de bairros ou ainda, grupos profissionais, que se apresentam durante o festejo.

Os registros mais antigos confirmam a existência de grupos de quadrilhas Juninas em Goiás, desde o ano de 1975, com o precursor do movimento no Estado, o “Grupo Viva” do Bairro de Campinas, antiga “Campininha”. Com características culturais ligadas ao meio rural, os visitantes dos festejos juninos poderão apreciar pratos típicos em boa parte dos municípios como: pamonha, milho verde e frango com guariroba.

As tradições folclóricas são mantidas mesmo com um constante crescimento das festas juninas no Estado e os costumes regionais são preservados como as bandeirolas, as danças de passos e a fogueira. A preocupação é não descaracterizar as manifestações juninas que representam muito para a cultura do Estado de Goiás e do país.

No que se refere à espacialização das festas juninas no Estado, foi possível observar a seguinte distinção entre mesorregiões: na Mesorregião Norte 16 festejos com caráter junino, alguns levam o nome dos três santos homenageados ou de “arraiás”; na Mesorregião Noroeste, 12; na Mesorregião Leste, 14; na Mesorregião Centro, 26 e na Mesorregião Sul 46.