2. Festas Rurais em Goiás

A festa não é somente alegria, animação é espetáculo. Ela reflete, uma espécie de “cordão umbilical simbólico”, nas palavras de Quintana (1998), com o passado e com o qual tem a possibilidade de estabelecer continuidade e projetar-se no presente e futuro.

Por muitos séculos os homens viveram no campo e, nele as festas surgiram como forma de solicitar boas colheitas, de agradecimentos quando estas ocorriam, de celebrações aos deuses e à natureza. Progressivamente, elas consolidaram significados, funções e sentidos nas diversas manifestações para, além de celebrarem, reforçarem uma sociabilidade entre seus participantes. A festa reconvertida traz novas dimensões.

A proposta para abordar especificamente a festa rural, merece um esclarecimento por esta tipologia. As festas não podem ser consideradas nem urbanas, nem rurais, pois são estruturadas por meio da coexistência desses dois universos.

A despeito deste entendimento, por uma questão didática adotou-se distinguir como rural aquelas festas que, pela sua forma de manifestação apresentam intensas ruralidades. Para ilustrar, exemplifica-se com as festas rurais na Região Metropolitana de Goiânia, embora a mais urbanizada do estado, com cerca de dois milhões e trezentos mil habitantes (IBGE, 2010) apresenta vigor nas modalidades de festas rurais.

As festas rurais realizam-se com forte intensidade e seu curto tempo parece proporcionar ao frequentador satisfações suficientes para regressar nas edições seguintes. Estes frequentadores geralmente têm vínculos com o meio rural e as ocasiões festivas prestam para renovar estes laços.

Ao se promover um balanço das festas brasileiras no último quartel do século XX, afirma-se que muitas tradições aqui chegadas, na bagagem cultural dos colonizadores foram tragadas pelo tempo. “Muitas festas desapareceram, outra estão desaparecendo; entretanto, nas regiões das novas culturas, algumas estão aparecendo. Não só as festas de produção (vinho, trigo, laranja, maçã, etc.), mas as que rememoram aquelas que existiam na terra donde se originaram” (ARAUJO, 2007, p. 8).

Algumas vezes estas festas rurais parecem buscar a transformação dos produtos e ou das atividades em símbolos de identidade, como estratégia de reafirmação deles. Com elas, seus realizadores constroem uma imagem local e ganham importância no jogo de competência /cooperação. Estas localidades, também, alimentam a pretensão de, pelas festas, criarem imagens de comunidades rurais empreendedoras.

Outras vezes, o motivo para realizar estas festas decorre de alguma atividade, uma lida, um produto da natureza que no passado foi relevante para a comunidade e, presentemente, está se tornando residual. O aspecto residual permite que as festas sejam transformadas em símbolos, assim perdurando-as, no presente e no futuro.

Para Almeida (2011), as festas rurais, pelos seus aspectos interativos e populares são importantes instrumentos de consolidação das identidades coletivas. Realizando a festa, considerada tradicional, os “antigos” procuram manter a tradição e, para os jovens, é uma excelente ocasião de reencontro com o lado festivo de seu lugar e oportuniza a renovação da identidade local.

Há a considerar que o convite ao festar decorre, ainda, da existência de instrumentos musicais como o violão e o pandeiro a sanfona, as danças típicas, as canções do lugar e que constituem parte do patrimônio cultural rural.

Na atualidade, há aquelas que permanecem como festas tradicionais, porém, numerosas festas rurais atuais são ditas modernas, para o futuro. Elas são modernas, na concepção de Velasco (1984), porque obedecem a datas de conveniência.

Estas festas têm uma racionalidade econômica e ao acontecerem nos finais de semana podem tornar-se mais rentáveis ao capturar aqueles que buscam lazer neste período. São festas inventadas e reinventadas e, pode-se afirmar, ainda, que são festas que se distinguem por serem “especializadas” em um produto, em uma atividade rural. Nisso reside seu encanto, pois, reconvertida, ela traz novas dimensões.

O Estado de Goiás tem suas raízes sertanejas marcantes e, as festas rurais animam o campo. “Tudo é festar. Tudo explica a festa”, ressalta Pessoa (2009). Atualmente, há uma heterogeneidade de festas rurais Estima-se em 132 festas rurais, ou seja, aproximadamente 13% de todas as festas do Estado de Goiás. Ressalta-se que as folias não foram consideradas como festas rurais, por serem atualmente hibridas e difícil de distinguir aquelas nitidamente de natureza rural.

As festas rurais no Estado de Goiás podem ser grosseiramente distinguidas e quantificadas em: festas de fiandeiras 04 (quatro), exposição agropecuária, festa de peão, rodeios, vaquejadas e cavalgadas 95 (noventa e cinco) festas e exposições ruralistas e de produção de alimentos 25 (vinte e cinco). Nota-se que as festas dominantes relacionam-se com o mundo da pecuária, do boi, do vaqueiro e da produção agrícola.

No que diz respeito à espacialização das festas rurais pelas mesorregiões, o mapeamento possibilitou identificar na Mesorregião Sul 46 festas rurais, na Mesorregião Centro 38, na Mesorregião Leste 18, na Mesorregião Norte 15 e na Mesorregião Noroeste 14. Tal distribuição superpõe a densidade populacional, ocorrendo maior quantidade de festas rurais em áreas mais populosas do estado de Goiás.