O projeto Atlas das Festas Populares resulta das atividades de pesquisa desenvolvidas a priori pelos/as colaboradores/as que participaram diretamente do Projeto aprovado junto a CAPES, Edital Pro-cultura 007/2008 – intitulado: “A dimensão territorial das festas populares e do turismo: estudo comparativo do patrimônio imaterial em Goiás, Ceará e Sergipe”. Posteriormente, pelo edital de Ciências Humanas CNPq /CAPES N º 07/2011 teve aprovado o projeto Cartografias dos Saberes Populares: as festas juninas e natalinas nos estados de Sergipe e Goiás. Os recursos liberados, cerca de onze mil reais, quase um terço do solicitado, impossibilitaram de realizar a proposta submetida ao CNPq de fazer o Atlas, das festas populares em Sergipe e em Goiás.
Diante do universo das festas realizou-se um levantamento primando por aglutinar as manifestações culturais em categorias festivas. A metodologia empregada nesse estudo consistiu no reconhecimento, mapeamento e análise das festas durante os ciclos natalino e junino e em períodos de entorno desses ciclos.
O desenvolvimento da pesquisa fundamentou-se na perspectiva qualitativa, visto que os seus métodos são apropriados quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e de difícil quantificação. A pesquisa qualitativa permite descrições detalhadas de fenômenos, o uso de citações diretas de pessoas sobre suas experiências, de trechos de documentos, registros, correspondências e transcrições de entrevistas e discursos, bem como proporciona dados com maior riqueza de detalhes e profundidade. Assim, as ações da pesquisa além de romper os muros da academia criam condições concretas e reais de integração e interação da universidade com a sociedade.
Os procedimentos metodológicos contemplaram levantamento de dados junto às Secretarias de Turismo e da Cultura municipais relativos às manifestações culturais; consulta aos jornais ”O Popular” e aqueles regionais considerando a divulgação da manifestação; coleta de dados junto aos sites de prefeituras, dioceses e paróquias. Por fim, entrevistas com os moradores, os organizadores e participantes das festas.
Para as entrevistas valeu-se da colaboração de Profa. Dra. Giuliana Andreotti da Universidade de Trento- Itália para a elaboração de uma metodologia de percepção da paisagem consubstanciado no “Caderno do Pesquisador” elaborado pela Profa. Dra Maria Augusta M.Vargas da Universidade Federal de Sergipe, que consistiu em fichas de observação e levantamento de dados, roteiros específicos para os ciclos, para cada tipo de entrevistado e para questionários.
Dentre os dados coletados priorizamos para este Atlas: identificar e mapear, a partir dos dados já coletados no projeto Pró-Cultura, às manifestações culturais que advêm das festas populares que reforçam a identidade local. Essas foram aglutinadas nas mesorregiões goianas definidas pelo IBGE. Os dados representados nos mapas caracterizam o universo das festas populares do estado. Os registros fotográficos compõem painéis ilustrativos da participação e vivências ocorridas durante as festas e os textos comentados permitem a análise de que essas são elementos dinamizadores da cultura goiana.
No estado de Goiás foram levantadas 1.354 festas, em 246 municípios., porém, certamente há muito mais festas populares em Goiás feitas pelas comunidades e que não ganharam ainda um registro e destaque regional. Este inventário, quase pioneiro, apresentou um panorama cujas profundidades e lacunas demandam continuidade e outras reflexões. Diante dessa constatação pode-se apontar para um estudo aprofundado, já que para essa Atlas, os dados de festas rurais e em particular para as ocorrências festivas que caracterizam o ciclo natalino, ainda se apresentam incipientes. Nesse mapeamento, as festas natalinas (presépios, cantatas e outros) ficaram subsumidas diante das folias de Reis que marcam o referido ciclo.
Cabe destacar que antes do desenvolvimento do Projeto inexistiam representações cartográficas dessas manifestações, seja focalizando a mera localização dos centros dos festejos e romarias, seja contextualizando-os nos ambientes em que se inserem.
Isto posto, os mapas que compõem o Atlas representam mais de mil festas populares, de acordo com a planilha de festas elaborada com o apoio dos pesquisadores. As festas populares foram classificadas por seis categorias (festas de Santos Padroeiros e Romarias; Festas Rurais; Festas de Folias; Festas Juninas; Festas Natalinas e Festas de Espetáculos) e, dentro destas categorias de festas há subclassificações conforme a especificidade de cada uma. Assim, para representar as festas populares, incialmente foi organizado a base de dados geográfica, formada pelos seguintes dados: o limite estadual, o limite mesorregional, o limite e a sede municipal. Em seguida foi pesquisada a parte iconográfica para representar da melhor forma possível as festas populares em Goiás. Foram utilizados como base de informação os símbolos do Guia Brasileiro de Sinalização Turística da Embratur de 2001, e a publicação de símbolos do software “CorelDraw”, de 1997. Portanto, esses símbolos foram georreferenciados nos mapas conforme a categoria de informação, ou seja, festas populares.
Quanto à dimensão territorial dos mapas, as festas populares em Goiás foram representadas em Mesorregiões, considerando a integração das informações com as análises consolidadas sobre o estado e objetivando uma melhor visualização das festas, com uma escala mais adequada. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, (Divisão do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões Geográficas, Rio de Janeiro, 1990), entende-se por mesorregião uma área individualizada em uma Unidade da Federação que apresenta formas de organização do espaço geográfico definidas pelas seguintes dimensões: o processo social como determinante, o quadro natural como condicionante e, a rede de comunicação e de lugares como elemento da articulação espacial. Estas três dimensões possibilitam que o espaço delimitado como mesorregião tenha uma identidade regional.
Salienta-se, por último, que se envolveu no projeto alunos de graduação, mestrado e doutorado. Portanto, o Projeto do Atlas criou a possibilidade de ampliar a produção acadêmica sobre a cultura popular goiana e garantir a qualificação dos pesquisadores/as em níveis diferenciados, a saber: 5 graduandos, 3 mestrandos, 4 doutorandos, 1 graduado, 1 mestre e 5 doutores. Ou seja, 19 participantes. Cabe ressaltar que entre os mestrandos da UFG, três ingressaram no doutorado e continuam com os estudos sobre festas.
A produção do Atlas de festas populares oportuniza a divulgação da cultura popular goiana em meios sociais que extrapolam o âmbito da universidade e alcançam setores da sociedade como os centros culturais e as instituições de ensino da educação básica. O material visual e textual do Atlas foi pensado como apoio para os conteúdos que versam sobre cultura popular goiana. Ademais, torna-se uma possibilidade de incentivos para ações que primam por divulgar o conhecimento das tradições e dos saberes locais, por meio de políticas de promoção e valorização da cultura.