Apresentação - Festas populares em Goiás: patrimônios materiais e imateriais da goianidade

As festividades estão presentes desde o aparecimento da humanidade sobre a terra, delimitando uma relação espaço-temporal imbricada à existência humana. Elas, as festas, possuem uma ampla significação, bem como as motivações da sua efetivação. Conforme Curado (2011), é possível que o quesito temporal época das festas tenha-se baseado na delimitação de ciclos produtivos em que se reuniam e que acabam por estabelecer as premissas festivas. As festas – mesmo não tendo inicialmente esta terminologia – acabavam determinando alguns espaços de maior convivência social, os quais recebiam uma preparação diferenciada daqueles destinados ao cotidiano. As Américas são uma boa exemplificação de espaços que receberam festas que acabaram com o passar dos tempos, criando suas próprias matizes estabelecidas pelo contato entre as diferentes culturas que aqui se fizeram presentes.

No caso do Brasil, as festas se fizeram presentes no momento da ocupação/colonização europeia-cristã e, como consequência direta, parte significativa delas possui caráter católico-evangelizador. No território brasileiro é possível verificar e identificar diversos tipos de festas: festas das colheitas, festas cívicas, folclóricas, agropecuárias comemorativas, festas religiosas de santos (padroeiros e romarias), festas natalinas, festas espetáculos e dos orixás para se ter uma pequena demonstração. Resgatando D’Abadia (2010, p.17), “as festas religiosas, num conjunto geral, estão relacionadas às celebrações e homenagens feitas às divindades cultuadas em qualquer segmento religioso. Dessas são mais populares no Brasil aquelas dirigidas aos santos católicos e, em menor escala, aos orixás”.

O estado de Goiás foi, na leitura de Palacín e Moraes (1994), conhecido e percorrido pelas bandeiras quase que desde os primeiros dias da colonização, mas seu povoamento só se deu em decorrência do descobrimento das minas de ouro no século XVIII. A partir de então, vários arraiais, julgados e vilas foram surgindo em várias regiões do estado em função da economia aurífera. Essa mobilidade de sujeitos rumo ao interior do Brasil é propiciadora também para a existência de diversas categorias de festas, que serão abordadas no contexto do Atlas de Festas Populares em Goiás.

Fundamentada na perspectiva qualitativa, esta pesquisa foi realizada utilizando métodos apropriados uma vez que o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social de difícil quantificação. Nessa modalidade de pesquisa há descrições dos fenômenos e, as ações da pesquisa, além de romper os muros da academia criaram condições concretas e legitima a integração da Universidade com a sociedade.

Pode-se afirmar que as festas populares apresentadas criam espaços em movimento, dinâmicos A Geografia tem se dedicado a compreender a espacialidade das festas populares como constituintes de discursos sobre o lugar definindo a prática socioespacial específica daqueles que a executam. Almeida (2011) é enfática ao afirmar que as festas criam lugares e territórios específicos; neles, as territorialidades elaboradas, a partir de relações afetivas e de pertencimento territorial, alimentam as tradições, persistência dos vínculos e identidades locais.

O Atlas de Festas Populares em Goiás é uma visão geográfica, contando com a pesquisa e análise de geógrafos sobre o tema. Nesse sentido, em sua elaboração se preocuparam com sua dimensão de patrimônio – material e imaterial - da goianidade. Tal aspecto foi possibilitado na análise, na descrição e na cartografia de suas mesorregiões, com os tipos de festas estabelecidas na seguinte ordem: festas de santos padroeiros e romarias; festas rurais; festas de folias; festas juninas; festas natalinas e festas de espetáculos.

Há muito mais festas populares em Goiás do que estas abordadas no presente Atlas. Este inventário, quase pioneiro, apresentou um fragmento ilustrativo das festividades goianas. É, contudo, rico no potencial ao apresentar a essência da manifestação cultural. Também, algumas festas que de suas práticas de celebrações, de tradições e de sociabilidade são reinventadas e tornam-se espetáculos midiáticos.

Espera-se que o Atlas auxilie na importância da valorização de tradições presentes nas raízes dessas festas populares e desperte o interesse para que este inventário tenha aprofundamento. Afinal, a festa popular é um fenômeno atemporal, expressão da tradição cultural e também, da identidade goiana.

Romero Ribeiro Barbosa e Maria Geralda de Almeida